Viviane diz que todo o processo que resulta nos três rótulos de cachaça e um licor hoje no mercado é artesanal.
Em Socorro (SP), outra estância do Circuito das Águas Paulista conhecida pela produção de cachaça, Wellen Mazzolini de Lima, de 30 anos, contribui para que a história inciada pelo pai há 32 anos prospere cada vez mais. “Aprendi tudo que sei com o meu pai e, agora, tenho o apoio dele para dar sequência ao trabalho".
Mestres em cachaça no Circuito das Águas, mulheres falam com orgulho da profissão: 'Paixão'
Viviane Baldin e Wellen de Lima revelam orgulho da profissão e contam sobre como começaram nos negócios que comandam em Amparo (SP) e Socorro (SP).
Por Ivan Lopes, G1 Campinas e região
Wellen de Lima e Viviane Baldin comandam alambiques no Circuito das Águas Paulista — Fotos: Andreia Pereira
O recado já foi dado: lugar de mulher é onde ela quiser! E nas cidades de Amparo (SP) e Socorro (SP), isso inclui o comando de alambiques. Para quem ainda acha que o mercado da cachaça é restrito ao mundo masculino, no Circuito das Águas Paulista elas dão as cartas na produção e venda de rótulos artesanais da bebida, um patrimônio histórico, gastronômico e cultural do Brasil.
Em entrevista ao G1, duas "alambiqueiras" contam sobre a relação com a bebida e a paixão pela profissão.
Viviane Baldin, por exemplo, é mestre alambiqueira e trabalha em uma microempresa do ramo de cachaça artesanal, em Amparo, desde os 18 anos. Hoje com 32, fala com orgulho da profissão.
“Sempre gostei de alquimia, de procurar o aperfeiçoamento do produto unindo a ciência e a técnica. Mergulhei com tudo nessa paixão”, diz.
A carreira de 14 anos é marcada por uma luta frenética em busca do conhecimento, sempre com objetivo de encontrar fórmulas e sabores inovadores que satisfaçam o consumidor.
“Participo de cursos, feiras, exposições e concursos. Fico agradecida por ter recebido a oportunidade da empresa. Crescemos juntas e me sinto realizada nesse universo” conta.
Viviane trabalha há 14 anos no ramo — Foto: Andreia Pereira Viviane trabalha há 14 anos no ramo — Foto: Andreia Pereira
Viviane trabalha há 14 anos no ramo — Foto: Andreia Pereira
Artesanal, e premiada
“De cada 150 litros de caldo de cana, tiro 20 de destilado. O resto é lixo”, comenta.
Ela conta que a fabricação de cachaça começou em pequena escala, para atender parentes e amigos do proprietário. Ao perceber a qualidade, em 1998, a empresa foi oficializada e iniciou a fase de comercialização formal, sem perder a característica de fabricação artesanal. “Atualmente tiramos 4 mil litros ao ano”, lembra.
De acordo com Viviane, a marca coleciona quatro prêmios, três pratas e um bronze em concursos, sendo o mais importante o de Bruxelas, na Bélgica, em 2012.
“A qualidade da água das minas da fazenda e o processo de fermentação são alguns dos segredos de nossas cachaças, que ficam armazenadas de 6 a 18 meses em tanques de aço inoxidável, tonéis de carvalho europeu e de jequitibá rosa, de acordo com estilo”, comenta.
Wellen aprendeu tudo que sabe sobre cachaça com o pai — Foto: Andreia Pereira Wellen aprendeu tudo que sabe sobre cachaça com o pai — Foto: Andreia Pereira
Wellen aprendeu tudo que sabe sobre cachaça com o pai — Foto: Andreia Pereira
Legado do pai
Wellen se considera alambiqueira autodidata e encara o desafio com o propósito de manter viva as raízes da família.
“Comecei a trabalhar no alambique por uma questão da necessidade de ajudar meu pai. Gostei e hoje tenho muito amor pelo que faço”, ressalta.
Com uma produção artesanal de 13 mil litros anuais, o alambique da família Lima abastece mercado, empórios, bares e restaurantes da região. A cachaça é o carro-forte, mas também produzem licores frutados e o famoso melado.
“A produção familiar cresceu aos poucos e em 2001, legalizamos o negócio. Me animo ainda mais ao perceber que podemos chegar ainda mais longe”, diz Wellen, que diz investir no mínimo 9 horas diárias na produção e comércio das cachaças e derivados.
Cachaças produzidas no Circuito das Águas Paulista — Foto: Andreia Pereira Cachaças produzidas no Circuito das Águas Paulista — Foto: Andreia Pereira
Cachaças produzidas no Circuito das Águas Paulista — Foto: Andreia Pereira
Circuito das Águas
O polo turístico conhecido como Circuito das Águas Paulista possui dezenas de alambiques e empresas de cachaça artesanais espalhadas, principalmente nas cidades de Amparo, Socorro, Monte Alegre do Sul (SP) e Serra Negra (SP), mas poucas delas são licenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A burocracia e alta carga tributária são as principais justificativas, de acordo com os produtores.
De acordo com o Mapa, 90% da cachaça produzida no Brasil sai de micro e pequenas empresas, com uma média de 4 mil produtores legalizados e 5 mil rótulos registrados. Em 2016, a categoria ganhou a oportunidade de fazer parte do regime tributário do Simples Nacional, o que trouxe uma estimativa de até 40% nos impostos pagos sobre o produto. Sem o Simples, a carga de imposto supera a 80%, de acordo com Instituto Brasileiro de Cachaça (Ibrac).
O que é cachaça?
Segundo o Ibrac, cachaça é a "denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, tendo como matéria-prima exclusiva o mosto fermentado do caldo da cana-de-açúcar, com teor alcoólico de 38% a 48%".
O Brasil tem capacidade instalada para produzir 1,2 bilhão de litros de cachaça por ano, embora o Ibrac estime algo em torno de 800 milhões a 1 bilhão de litros/ano. A exportação, considerada crescente, é de apenas 2% do montante produzido. Estados Unidos, Alemanha, Paraguai, França e Portugal são os principais importadores do produto.
O Estado de São Paulo lidera em volume o mercado interno da produção de cachaça, embora Minas Gerais seja o maior produtor do destilado de alambique. Atualmente todos os estados do país fabricam a bebida.